A diferença na vida
Quando andava no 7º ano havia uma rapariga que pouca gente se aproximava dela - a Maria de Fátima.
Hoje lembrei-me dela.
A Maria de Fátima parecia mais velha que nós (não sei se seria), era pobre, muito pobre. Ela vestia umas roupas muito antiquadas, provavelmente de pessoas mais velhas. Provavelmente roupas que lhe davam. As cores da sua roupa não conjugavam. Cheirava mal, por falta de cuidados de higiene. Não tinha porta-lápis lindos, nem mochilas novas. A vida não me parecia simpática com ela, que caminhava todos os dias pelo menos 5 kms ou mais para chegar à escola (fizesse sol ou chuva). Naquele tempo as crianças não tinham autocarros para as levar à porta da escola.
Poucos falavam com a Maria de Fátima. Poucos, muito poucos. Na sala de aula ficava quase sempre sozinha.
Mas a Maria de Fátima era uma menina educada e muito inteligente. Será que quando chegava a casa a felicitavam pelas notas que tirava? Não sei... A mãe dela ia à escola falar com os professores, isso eu sei.
Eu falava com a Maria de Fátima. Ela ria, mas sempre com muita vergonha, numa altura em que o bulling não era falado e nem existia. Muitos alunos gozavam com ela. Eu falava com ela, sem problemas. Ela era inteligente e alguém com quem se podia falar.
Na 6ª-feira, o Afonso viu que tinha na turma um menino novo. Um menino que veio de outro país. E disse-me:
" - Para a semana vou brincar com ele."
O Afonso é uma criança muito querida, que se preocupa com tudo. Preocupa-se com os outros e com o seu bem-estar.
Embora não seja o melhor aluno da turma, não tire excelentes notas, tem uma excelente personalidade e um melhor coração. Um coração puro, sem maldade.
Ontem, foi perguntar ao menino se queria brincar com ele.
O menino chegou há 1 mês a este nosso país, vindo do Brasil. Contingências da vida.
Ontem, o Afonso só me falava desse novo amigo. Ele tem pena do menino que não tem amigos, veio de longe.
É importante que existam pessoas como o Afonso. De certeza que fez a diferença na vida daquele menino no momento de integração numa nova escola, e num novo país.
Que será feito da Maria de Fátima?
